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domingo, 4 de janeiro de 2009

O Ciúme nos bastidores da Psicanálise



Descrito na obra de William Shakespeare como "o monstro de olhos verdes", o ciúme congrega sentimentos contraditórios. Influenciado por valores culturais, inspira pintores, compositores e escritores - mas também pode se transformar em doença. (Eduardo Ferreira-Santos em viver mente & cérebro- nº 166)
O Conhecimento psicanalítico provocou profundas transformações na forma de compreender o homem contemporâneo, e é nesse conhecimento que estão ancoradas a psicologia e as diferentes linhas psicoterápicas atualmente praticadas. Nem todos se dão conta, porém, de que na origem delas há importante contribuição do ciúme, ainda que indireta.
No fim do séc. XIX, o jovem Sigmund Freud, recém-formado, foi estimulado pelo clínico vienense Joseph Breuer a levar adiante suas pesquisas. Vários pacientes do médico experiente sofriam de afecções nervosas e, entre eles, estava a bela e culta Bertha Pappenheim, que passou para a história com o codnome de Anna O. Diagnosticada como histérica, ela apaixonou-se por Breuer e passou a enviar-lhe flores e outros presentes diariamente. Em momentos de confusão mental, insistia que o médico a tinha engravidado. A situação, bem como o tempo que Breuer dedicava a moça, despertaram a irritação de sua mulher. Enciumada, ela exigiu que o marido parasse de atendê-la.
Para controlar o impasse, ele encaminhou a paciente para Freud, com quem o encantamento se repetiu. Mais tarde, em sucessivas ocasiões, a jovem voltou a se interessar por quem a atendia. A repetição foi percebida, estudada e descrita na teoria freudiana como transferência, um conceito que abriu campo para o direcionamento do atendimento psicanalítico.
Em 1922, mais de duas décadas depois, Freud escreveu: " Embora possamos chamá-lo de "normal", o ciúme não é, em absoluto, completamente racional, isto é, derivado da situação real, proporcional às circunstâncias reais e sob controle do ego consciente, pode achar-se profundamente enraizado no inconsciente, ser uma continuação das manifestações da vida emocional da criança e originar-se no complexo de Édipo ou das relações entre irmãos do primeiro período sexual. Além do mais, é dígno de nota que, em certas pessoas, ele é experimentado bissexualmente - o homem não apenas sofrerá pela mulher que ama e odiará seu rival, mas sentirá pesar pelo homem a que ama incoscientemente e pela mulher, sua rival".